É muito difícil se manter saudável, com o corpo ideal e as cobranças só pioram isso tudo. Não se deve achar culpados, mas cada um assumir o protagonismo da própria saúde, buscando conhecimento. Sabendo disso, vamos aprofundar mais sobre o tratamento da obesidade e, mais importante, sobre como manter a doença sob controle, ao longo do tempo.
O que é a doença obesidade?
A obesidade é uma doença crônica, complexa, multifatorial causada pela genética, alterações metabólicas, fatores psicológicos e hábitos de vida. Ela se caracteriza pelo excesso e acúmulo anormal de gordura no corpo, daí vem a palavra obesidade, originada do latim “obesitas”, que significa gordura.
Em 1948, a obesidade passou a ser reconhecida como uma doença, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Desde então, a sua incidência só aumenta e os dados mostram que, no Brasil, 22,8% dos homens e 30,2 % das mulheres possuem obesidade. Ao todo, na população com idade de 20 anos ou mais, 26,8 % dos brasileiros são obesos, de acordo com pesquisa do IGBE divulgada em 2019.
A obesidade é uma questão de saúde pública, pois os obesos têm maior chance de adquirir doenças como resistência insulínica e diabetes, pressão alta, dores nas articulações, cansaço, dificuldades respiratórias, gota, pedras na vesícula e até alguns tipos de câncer como no endométrio. mama, rins, fígado, intestino grosso e esôfago.
A Nutrologia é uma especialidade da Medicina que estuda, com profundidade, o diagnóstico e tratamento da obesidade.

Como identificar a obesidade?
Está acima do peso que gostaria? Sua roupas não cabem mais? Sente sempre muita fome e vontade de comer cada vez mais? Nota sua saúde indo de ladeira a baixo? Não consegue perder peso e tudo que come parece engordar mais em você do que nas outras pessoas?
Essas são algumas das perguntas que as pessoas com obesidade escutam ou fazem para si mesmas, ao longo da vida. Se você já se identificou, é importante buscar ajuda de um nutrólogo para o emagrecimento saudável e principalmente, para te auxiliar na manutenção da perda de peso.
Segundo a OMS, um indivíduo tem obesidade quando o IMC é maior ou igual a 30kg/m2. As pessoas que possuem IMC entre 25 e 29,9kg/m2 estão com sobrepeso. Existem também aqueles indivíduos que possuem IMC dentro do valor considerado normal, mas tem excesso de gordura, pela análise da composição corporal, sofrendo também com os danos causados pelo excesso de gordura corporal.
Pessoas com obesidade ou sobrepeso podem apresentar vários sinais e sintomas como:
- Respiração irregular durante o sono com roncos, com ou sem apneia do sono
- Dificuldade para movimentar-se
- Cansaço constante
- Diminuição da libido
- Autoestima fragilizada
- Problemas dermatológicos como estrias e celulites
- Aumento das mamas em homens
- Distúrbios no ciclo menstrual nas mulheres
- Aumento da pressão arterial, predispondo Hipertensão Arterial
- Resistência insulínica, predispondo ao Diabetes
- Dores articulares principalmente em joelhos, tornozelos
- Distúrbios gastrointestinais, frequentemente associado com Disbiose
Abordagem Diagnóstica
Durante consulta médica nutrológica, será realizada a medição do peso e altura, e o cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC), em todos os pacientes rastreados para sobrepeso e obesidade, na rotina periódica de saúde. Também é indicado medir a circunferência abdominal (CA), a partir dos indivíduos com sobrepeso ou mais.
Além disso, podemos realizar o cálculo da relação cintura-estatura, pois é um parâmetro mais eficiente para prever o risco cardiovascular do que a CA, e melhor preditor de mortalidade do que o IMC sozinho.
Quais os tratamentos disponíveis?
Os tratamentos para obesidade são cada vez mais numerosos e acessíveis, incluindo o uso de medicamentos mais eficazes e sem muitos efeitos colaterais, diferente do que ocorria no passado.
Porém, a melhor maneira de tratar a obesidade ainda é adotando mudanças no estilo de vida, com a clássica e conhecida combinação de uma alimentação menos calórica, junto a exercícios físicos, de preferência sob o acompanhamento regular de um médico.
Na abordagem terapêutica, é importante o médico questionar sobre quando se iniciou o ganho de peso, se houve tentativas prévias de perda ponderal, mudanças nos hábitos alimentares, qual o histórico de atividade física, medicações em uso contínuo e de uso prévio.
Também é investigado qual o padrão do sono, se há fatores psicológicos e estresse envolvidos, se há história familiar para obesidade, e investigar causas secundárias de obesidade como Síndrome dos Ovários Policísticos, Hipotireoidismo, Síndrome de Cushing.

Mudanças do Estilo de Vida
O tratamento para obesidade sempre começará orientando-se as mudanças no estilo de vida, não somente mudanças na alimentação com restrição calórica e exercícios físicos, mas também, mudanças comportamentais com redução do estresse e psicoterapia, regulação do sono, cessação do fumo, redução do consumo de bebidas alcoólicas, correção de carências nutricionais existentes.
Também é fundamental o controle das comorbidades associadas como hipertensão arterial, diabetes tipo 2, dislipidemia.
É importante reforçar a adesão do paciente ao tratamento não farmacológico, com reavaliações a cada 03 meses ou menos, até atingir as metas. Se a perda ponderal for menor que 5% do peso corporal total em 06 meses, deve-se tentar outras estratégias no tratamento, como o início da terapia farmacológica.

Medicamentos
O tratamento medicamentoso para obesidade nunca deve ser prescrito, sem envolver também as mudanças no estilo de vida.
É válido lembrar que os medicamentos antiobesidade estão cada vez mais eficazes e sem muitos efeitos colaterais, sendo bem tolerados pelos pacientes. Para isso, uma avaliação detalhada e individual é necessária, antes da escolha da medicação, que o paciente se beneficiará mais.
No mercado brasileiro, há opções de medicamentos que constam em bula (on-label) ou estão fora da bula (off-label) para o tratamento da obesidade. As substâncias, contidas nestes medicamentos, agem no sistema nervoso central, inibindo o apetite e aumentando a saciedade, ou atuam na redução da absorção de gorduras pelo trato gastrointestinal, ou ainda, agem na regulação da glicemia, diminuindo a resistência insulínica e retardando o esvaziamento gástrico, com a diminuição da ingestão de alimentos.
Após o início do tratamento medicamentoso, o paciente deve ser reavaliado pelo médico, pelo menos a cada 4 semanas, para monitorar a perda de peso, pressão arterial/frequência cardíaca e questionar possíveis efeitos colaterais da medicação utilizada, bem como, se houve resposta à medicação.
Cirurgia
A cirurgia bariátrica é o tratamento de escolha para obesidade quando todas as tentativas de tratamento clínico foram fracassadas.
Ela é indicada para todas as pessoas com IMC acima de 40kg/m2, e para aqueles indivíduos com IMC acima de 35kg/m2 e portadores de comorbidades (doenças que são agravadas pela obesidade e melhoram com o tratamento dela) como asma, apneia do sono, hipertensão, cardiopatias, diabetes.
Além disso, para haver a operação ainda são levados em conta pré-requisitos, como compreensão das complicações decorrentes da cirurgia a longo prazo, ausência de transtornos psiquiátricos graves, capacidade do paciente suportar o procedimento. Ou seja, o risco benefício envolvido deve ser muito bem avaliado.
Vale salientar que mesmo com a cirurgia, não há cura para a obesidade. Portanto, a mesma poderá rescindir, se não houver mudanças no estilo de vida, para o seu controle.
Porque é tão difícil manter o peso perdido?
A obesidade é considerada a doença das resistências, e entre elas, existe a resistência à leptina (hormônio produzido nas células de gordura) que é responsável por controlar o apetite, reduzir a ingestão de comida e regular o gasto energético, permitindo manter o peso corporal. O obeso produz uma quantidade elevada de leptina, mas o corpo dele, por natureza, é resistente a sua ação.
Já a grelina (hormônio produzido nas células do estômago e pâncreas) responsável por estimular o apetite, e cumprir papel importante na via de recompensa do cérebro ligada à ingestão de comida, ao contrário do esperado, é encontrada em quantidades menores nos obesos. Nesse caso, as pessoas obesas possuem uma sensibilidade maior à grelina.
A recidiva e o reganho de peso após o tratamento é algo muito frequente nos pacientes. Em parte, isso é explicado pela teoria de que, após a perda de peso, ocorre diminuição dos adipócitos e, consequentemente, menor produção de leptina, e aumento da fome. Há também a secreção de hormônios contra regulatórios, na tentativa de reganho de peso.
No nosso corpo, existe uma memória metabólica que impede bruscas perdas ou aumentos do nosso peso habitual (set point). Esse “ponto de equilíbrio” é determinado pelo nosso cérebro, baseado no peso que tivemos a maior parte da nossa vida, e por isso, o nosso corpo sempre luta para permanecer ou voltar para ele.
Além disso, a diminuição no gasto energético, causada pela própria perda de peso, dificulta a manutenção da perda ponderal.
O que fazer para não engordar mais?
As pessoas que evoluem com sucesso na manutenção do peso corporal são as que praticam algumas das dicas, a seguir:
- Realizam pesagem frequente (manter uma balança em casa)
- Têm uma perda de peso inicial maior (> 2 kg em 4 semanas)
- Participam de forma regular de um programa de perda de peso, com acompanhamento médico
- Possuem a crença de que seu peso pode ser controlado
- Consomem uma dieta hipocalórica (ex.: 1.400 kcal/dia)
- Fazem atividade física regular
Busque ajuda médica
A obesidade prejudica muitos aspectos da vida de quem sofre com essa doença, tanto físicos quanto emocionais. E se não for tratada adequadamente, pode trazer graves consequências, como incapacidades e até o óbito.
É importante salientar, que fórmulas de emagrecimento, com muitas substâncias misturadas, são proibidas pelo Ministério da Saúde e provocam constantemente mortes. Não se deve comprar remédios sem prescrição médica pela internet ou em academias de ginástica, pois muitos também não possuem autorização pelos órgãos regulatórios e de fiscalização, e podem fazer mal à saúde de quem utiliza;
Segundo o Conselho Federal de Medicina, clínicas e consultórios médicos não podem vender medicamentos. O paciente deve ter a liberdade de escolher a farmácia de sua confiança para comprar ou manipular o fármaco prescrito.
Assim, se você sofre com a obesidade/sobrepeso, procure ajuda médica. O nutrólogo é o médico que pode diagnosticar a obesidade, indicar tratamentos e receitar remédios, bem como, manter acompanhamento junto ao paciente, para solucionar possíveis intercorrências ou efeitos colaterais do tratamento.
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