O que é tireoide?
A tireoide é uma glândula endócrina localizada na região do pescoço, logo abaixo do pomo de adão, em formato de “borboleta” e é uma das estruturas mais importantes para o corpo humano.
Ela produz os hormônios T3 e T4 que controlam o metabolismo do corpo, a temperatura basal, a frequência dos batimentos cardíacos, o trânsito intestinal, o raciocínio e a concentração, o tônus da musculatura, regulação dos ciclos menstruais, do humor e da respiração celular. Ou seja, ela interfere no funcionamento de órgãos importantes para nosso organismo como o cérebro, o coração, os rins, o intestino, o fígado, entre outros.
A principal matéria prima na produção dos hormônios da tireoide é o iodo, adquirido por meio da alimentação. É recomendado uma ingestão entre 75mcg até 1.100mcg por dia para adultos. Os principais alimentos ricos neste mineral são os frutos do mar, algas marinhas, ovos, peixes de água salgada, cereais, sal de cozinha iodado.
Principais problemas na tireoide
Quando algo está errado no funcionamento da tireoide, surgem seus principais distúrbios, o hipotireoidismo e o hipertireoidismo.
Hipertireoidismo
É a situação na qual ocorre produção e secreção exagerada de hormônios tireoidianos. A causa mais comum é a doença de Graves (doença autoimune que estimula o funcionamento da tireoide). Outras causas podem ser consumo excessivo de iodo ou de hormônios tireoidianos, além de inflamação, nódulos ou cistos na glândula.
Sinais e sintomas:
- hiperatividade
- insônia
- tremor
- intolerância ao calor
- palpitações
- exoftalmia (olho esbugalhados), desconforto ocular
- perda de peso ou dificuldade de ganho de peso mesmo com fome aumentada
- ausência de menstruação
- sede e aumento do volume de urina
- aumento da frequência de evacuações
- pele úmida e quente
- queda de cabelo
- fraqueza muscular
Pessoas com quadro de hipertermia (altas temperaturas), taquicardia grave (coração acelerado), inquietação podem estar com uma crise tireotóxica e devem procurar pronto atendimento médico imediatamente.
Hipotireoidismo
O hipotireoidismo é uma situação na qual existe diminuição da produção dos hormônios da tireoide ou redução da ação deles nos órgãos e tecidos do corpo. É a desordem mais comum da tireoide, afetando cerca de 8,5% da população brasileira, principalmente mulheres.
Segundo Broda Otto Barnes, médico americano endocrinologista, o hipotireoidismo era bastante subdiagnosticado nos EUA desde a década de 70, e causava uma gama de problemas na tireoide. Até 40% tinha alguma disfunção que não era diagnosticada, na maioria das vezes, e é o que vemos ainda hoje, sendo um problema que ainda persiste na população.
O hipotireoidismo autoimune (tireoidite de Hashimoto) é a causa mais comum de hipotireoidismo primário em regiões suficientes em iodo. Outras causas podem ser exposição a substâncias tóxicas à tireóide, medicamentos contendo lítio, pós- tireoidectomia (remoção cirúrgica da glândula), deficiência de ingestão de iodo, tumores hipotalâmicos.
Sinais e sintomas:
- fadiga
- pele seca e áspera
- queda de cabelo e unha quebradiças
- inchaço ao redor dos olhos
- intolerância ao frio
- ganho de peso (pela diminuição da taxa metabólica e ao acúmulo de líquido rico em glicosaminoglicanos)
- lentificação de movimentos e fala
- constipação
- edema periférico (mixedema pré-tibial)
- síndrome do túnel do carpo
- vertigem ou zumbido
- alteração na capacidade de concentração e memória
- depressão
- bradicardia (baixa frequência cardíaca)
- distúrbios reprodutivos (baixa fertilidade, aborto precoce, hiperprolactinemia, redução da proteína ligadora de hormônio sexual (SHBG), libido reduzida)
É interessante fazer uma triagem em algumas pessoas mesmo assintomáticas, que estejam em uma dessas situações: mulheres em idade fértil ou idosas acima de 60 anos, grávidas, pessoas com tratamento anterior de radiação da tireoide, cirurgia tireoidiana ou disfunção tireoidiana prévia, história pessoal de doença autoimune (ex.: diabetes mellitus tipo 1, vitiligo, síndrome de Sjögren, lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatoide), história familiar de doença tireoidiana, uso de drogas (ex.: lítio, amiodarona, interferon alfa, sunitinibe, sorafenibe).
Caso seja necessário, a investigação será feita com acompanhamento médico através de anamnese detalhada e exames laboratoriais como dosagem no sangue de TSH (hormônio tireoestimulante) e da fração do hormônio T4 livre.
Também há o Teste da Temperatura Basal que pode ajudar na avaliação indireta da tireoide e ser feito em casa. Ele é baseado no princípio de que os hormônios tireoidianos são importantes para aumentar a velocidade do metabolismo, síntese de proteínas, queima de gordura, intensidade de absorção de nutrientes. Acontece que esse conjunto de reações químicas geram calor, e é esse calor que mantém a temperatura corporal. Quando avaliamos a temperatura corporal basal, indiretamente estamos avaliando a função da tireoide.
Teste da Temperatura Basal para tireoide
O teste da temperatura basal é uma forma rápida, fácil e que pode ser feita na sua casa, apenas com o auxílio de um termômetro, para fornecer informações valiosas se você pode estar sofrendo de problemas na tireoide, antes mesmo de manifestar sintomas aparentes.
Para realizá-lo, deve ser feito o seguinte: à noite, deixe o termômetro ao lado da cama. Assim que acordar, antes de se levantar, pegue o termômetro e meça sua temperatura corporal axilar. Em seguida, anote em um diário com data e horário. Realize o mesmo processo durante, pelo menos, 5 dias. Para saber qual a média de temperatura basal do corpo, some as 5 temperaturas e divida por 5. O ideal é que fique entre 36,6-36,9C.
Quanto menor for a média de temperatura, maior a chance da tireoide estar funcionando mais lenta do que o normal e desenvolver hipotireoidismo. O oposto também acontece, quanto mais alta a média de temperatura, maior o risco da tireoide está acelerada e existir um hipertireoidismo.
Cuidados ao realizar o teste:
– não use cobertores elétricos
-não consuma álcool ou substâncias estimulantes como anfetaminas, cocaína, efedrina e cafeína)
-Mulheres devem realizar a partir do 3º dia do ciclo menstrual, evitando o período da ovulação (no 14º dia do ciclo)
-Não fazer o teste na presença de febre
-Dormir pelo menos 6 horas por noite
Quer realizar seu teste? Vou deixar aqui uma tabela que te ajudará na hora de anotar os valores de temperatura axilar. Depois leve para sua próxima consulta com um médico da sua confiança.
Quando é hora de buscar ajuda?
Você deve procurar por atendimento médico sempre que perceber algum sinal ou sintoma, pois os distúrbios da tireoide podem ser muitos prejudiciais e potencialmente graves, se o tratamento for tardio.
O médico é o profissional que deve avaliar o paciente clinicamente e então solicitar alguns exames específicos, de acordo com a necessidade.
Vale salientar que na maioria dos casos, os sintomas são múltiplos e inespecíficos, e portanto, o diagnóstico torna-se mais difícil.
Também, é preciso ficar atento ao aparecimento de caroços, nódulos ou do aumento de volume cervical, pois a tireoide aumentada muitas vezes vem junto das alterações hormonais.
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